segunda-feira, 10 de novembro de 2008

Quem dá mais valor à vida?

Há mais ou menos 50 anos, os sociólogos Austin Porterfield e Jack Gibbs realizaram uma pesquisa na Nova Zelândia que relacionava suicídios à classe e à mobilidade social. Foram estudados casos ocorridos entre 1946 e 1951.

O trabalho tinha como objetivo descobrir em quais classes (alta, média ou baixa) o suicídio era mais comum e se a mobilidade social (enriquecimento ou empobrecimento) exercia alguma influência em tal prática.

Uma análise simples mostrou que a maioria dos casos de suicídio (30%) eram praticados pela parcela mais rica da sociedade, enquanto os pobres apresentaram a menor porcentagem. Além disso, dentre as classes altas, destacaram-se os praticantes com mais de 35 anos. Essa proporção direta entre renda e número de suicídios (crescimento paralelo), no entanto, não é considerada universal.

De acordo com a teoria, a mobilidade pressupõe adaptações radicais devido à mudança de classe. Os dados mostraram que os suicidas, majoritariamente, haviam passado por tal mobilidade.

O tipo de crise psicológica promovida pela mudança de classe variava dentre os que subiram, desceram ou se mantiveram estagnados em relação à posição ocupada na sociedade. Aqueles que avançaram de patamar apresentavam problemas com o emprego. Os que decaíram tinham problemas interpessoais - brigas, divórcios, falecimentos.

A pesquisa de Porterfield e Gibbs não deu importância à ligação entre suicídio e doenças mentais (como a depressão) ou influências externas, e por isso não obteve tanta credibilidade. Foi capaz, entretanto, de prever os males do consumismo e do status quo, que comprometem a qualidade de vida da sociedade contemporânea.

Por Rafael dos Santos